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5 anos

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Em cima da mesa o balão dourado no formato do numeral cinco descansa. Já é tarde, uma noite fria e silenciosa de inverno nos acompanha. Enquanto eu escrevo, ela dorme. Imagino que deva estar apreciando bons sonhos, a contar pelo final de semana agitado e alegre que tivemos. Doces, salgados e brincadeiras. Ela completou 5 anos e nós comemoramos juntos.

26 de junho foi o dia em que ela nasceu e eu, renasci. Cada vez mais eu me convenço de que o tempo é relativo por aqui. Nesta meia década, ela praticamente aprendeu uma coisa nova por dia. Eu também. Diante dos meus olhos eu tenho o privilégio de acompanhar o desenvolvimento dela. Por outro lado, ela nem imagina o quanto eu tenho aprendido, com a sua incansável alegria de viver. Me tornei mais leve, paciente e aprendi a ver o mundo com mais poesia.

Os primeiros passos dela para a vida foram os meus primeiros passos para a paternidade. As primeiras palavras dela com o mundo, foram as minhas primeiras palavras para comunicar um amor que eu jamais havia experimentado. Caímos e nos levantamos diversas vezes. Depois de tantas emoções, já estamos até andando de bicicleta sem rodinhas. Uma coisa é certa, ela aprende muito mais rápido do que eu. Confesso que ainda me atrapalho para arrumar o seu cabelo. Aproveito para fazer um pedido aos pais de meninos, deixem que eles brinquem de boneca na infância. Entre um cabelo desarrumado e uma meia virada, eu sigo aqui, tentando. Percebi que o importante é seguir junto, se dedicando e aprendendo. Essa história de perfeição é uma furada. Acredito muito mais em atenção, afeto e presença.

Sobre as transformações que vivi nestes cinco anos, entendi que um homem pode experimentar três grandes nascimentos. O primeiro é quando o misterioso milagre acontece, tornando possível a vida. O segundo é quando você descobre o próprio sentido de estar vivo. A paternidade surgiu para mim como um terceiro nascimento. Certa vez um amigo me perguntou: qual é a função dos filhos em nossas vidas?

Em resposta, eu disse que os filhos servem para nos ensinar a amar alguém, mais do que a nós mesmos. Não se trata de romantizar essa experiência, amor é algo que se sente, mas também, que se aprende. Ou amor é algo que se reaprende? Ser pai é isso. É uma sensação dupla, de experimentar algo novo, mas que já estava aqui. Experimentamos um afeto sublime e inexplicável que chegou, mas que já estava. Das palavras que me faltam para explicar isso, encontrei na poesia de Fernando Pessoa uma ajuda:

"Quando te vi, amei-te já muito antes
Tornei a achar-te quando te encontrei
Nasci pra ti antes de haver o mundo
Não há coisa feliz ou hora alegre
Que eu tenha tido pela vida fora,
Que não o fosse porque te previa,
Porque dormias nela tu futuro,
E com essas alegrias e esse prazer
Eu viria depois a amar-te''.

Parabéns, filha, pelos nossos 5 anos de vida e aprendizados.

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